Descrição
Com base na minha experiência social e sociológica inicial na favela do Jacarezinho no Rio de Janeiro e no meu subsequente trabalho ativista com movimentos sociais associados ao Fórum Social Mundial, cheguei à conclusão de que as epistemologias norte-cêntricas dominantes levaram a um desperdício maciço de experiencia social ao ignorarem, anularem, desacreditarem ou simplesmente suprimirem formas alternativas de saber e de ser, expressas nas lutas sociais contra o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado pelos grupos sociais que mais sofreram com as injustiças causadas por estes principais modos de dominação. A partir daí, decidi desenvolver as epistemologias do Sul, uma nova designação para práticas cognitivas e epistêmicas antigas e muitas vezes ancestrais. À luz destas epistemologias, os fracassos do recurso ao direito para a transformação social (reformismo jurídico) tornaram-se cada vez mais evidentes. O direito moderno eurocêntrico é o produto e o co-produtor da linha abissal que separa os que são tratados como seres plenamente humanos e os que são tratados como seres sub-humanos. As epistemologias do Sul permitiram-me esclarecer muitas questões que tinham ficado sem resposta nas minhas pesquisas anteriores sobre a sociologia do direito.