Descrição
A Justiça Restaurativa foi-me apresentada como uma “esperança defeituosa” – termo recém-arranjado na tentativa de captar o “entusiasmo crítico” dos professores que a ela me apresentaram. Uma esperança que ainda procura formas de se manifestar, até hoje; que ainda não transformou o prometido nem como prometido, em canto algum do mundo; que ainda replica muito do que critica; e que, não raras vezes, perde-se nas viagens de ida (sem volta) e volta (sem ida) feitas entre países “centrais” e “periféricos”. Mas, apesar de tudo, uma esperança. Viva. O livro de Patrícia, portanto, é esperança.
As entrelinhas desse livro também falam sobre a necessidade de escrevermos (nós, “restaurativistas”) para quem não conhece a justiça restaurativa, tem visões distorcidas a seu respeito, ou nunca testemunhou o seu potencial. Precisamos deixar de escrever para quem já “comprou” a proposta restaurativa e passar a dialogar, e esse diálogo é tão desafiador quanto urgente, com quem a rechaça. Diálogos precisam ser travados com quem a rechaça a partir de argumentos legítimos, que enxergam os riscos nela residentes e que são tão comumente deslembrados pela romantização que invade a fala e escrita daqueles que, como eu e Patrícia, foram “convertidos” à JR. A produção acadêmico-cientí¬fica no campo da JR, aqui no Brasil, ainda carece dum respeito e reconhecimento que só virão quando nossas publicações chamarem a atenção dos mais e menos entusiastas, e também daqueles que não possuem entusiasmo algum a respeito. O seu livro, Patrícia, tem o potencial de dialogar com esses diferentes destinatários, na medida em que ele empurra “o leitor” para fora da sua zona de conforto.
Profª. Dra. Fernanda Fonseca Rosenblatt