Descrição
A PRESENTE OBRA, REDIGIDA POR MUITAS MÃOS, por professores e pesquisadores, dedica-se à questão racial no Brasil. Procura dar conta da dimensão da violação dos direitos humanos, mais particularmente, afeita à integridade física e psíquica, à saúde, no que tange à raça negra. Analisa o processo de colonização brasileira, mergulha em suas reminiscências, para melhor compreender a realidade social hodierna, posto que o país possui a segunda maior população negra do planeta, e seguem disseminadas múltiplas práticas racistas com o escopo de inscrevê-la no lugar da subalternidade.
O livro desvela a noção de raça de acordo com os ensinamentos de Frantz Fanon, não como critério físico ou genético, mas político, para dominação. Retoma a condição racial na Latinidade, circunscrita à concepção econômico-mercantil, que por séculos colonizou o corpo negro, no que Achille Mbembe batizou de necropolítica, que abarca do alterocídio ao epistemicídio. Perfaz o entrelaçamento da questão racial com as desigualdades socioeconômicas, permanências escravocratas, em consonância com o paradigma interseccional. Considera a sobreposição de opressões, pelas imbricações das categorias de raça, classe e gênero, no tocante à ruptura com direitos fundamentais como a saúde. Inclusive, destaca a pandemia ocasionada pela covid 19, com estudos específicos atinentes às ofensas aos direitos sexuais e reprodutivos, abrangendo do aborto à mortalidade das mulheres negras no país.
Para além dos desdobramentos e implicações do racismo no campo da saúde, os artigos em tela alcançam a dimensão das políticas públicas (e de suas ausências), no entrecruzamento com mercado de trabalho, moradia, seara religiosa, jurídica e punitiva. Logo, configuram-se enquanto necessária denúncia diante da deflagração do preconceito. Pois, modula-se um racismo difundido e estruturado na sociedade, o qual se coloca no âmbito econômico, social, político, jurídico, subjetivo e psíquico, constitutivo das relações humanas, como denota Silvio de Almeida.
Por derradeiro, a pesquisa retrata como a questão racial está a irromper na consciência contemporânea, com uma reflexão ética no plano dos direitos humanos. Realiza uma urgente crítica afrocentrada, na medida em que visa a romper com a hierarquização da humanidade, com as matrizes ibéricas inquisitoriais e com as permanências racistas que conferem vertebração à sociedade. Portanto, dirige-se à intransigente defesa dos direitos humanos, uma vez que almeja construir um outro amanhã, de reconhecimento e elevação das raízes africanas, ao lançar as bases e fundamentos para erigir um novo modelo de Saúde e Justiça Afrodiaspórica (ROBERTA PEDRINHA).