Descrição
Da tríade clássica da Revolução Francesa Liberdade, Igualdade e Fraternidade -, o último princípio parece ter sido esquecido ou neutralizado pelos dois primeiros, com a insurgência das duas ideologias políticas que dominam, com variantes internas e combinações numerosas, a história ocidental dos últimos dois séculos.
Por um lado, um liberalismo insensível à crescente desigualdade que a economia de mercado proporciona, com o seu ideal de igualdade formal de todos perante a lei; por outro, um socialismo autoritário infenso ou negligente com as liberdades individuais, impondo o Estado como protagonista absoluto do progresso social.
Para recuperar esse ponto cego da modernidade, Chiara Soares assumiu o desafio de pensá-lo a partir da teoria clássica da lei natural, no âmbito de uma teoria da razão prática e do bem comum, articulando dois importantes filósofos contemporâneos, John Finnis e Luis Fernando Barzotto. O resultado não poderia ser mais convincente, dado o estilo fluente, o rigor conceitual e a revisão bibliográfica desta obra.
Por meio do reconhecimento da antropologia do ser pessoa, nossa autora defende uma ética da alteridade que supere o individualismo e o estatismo, redimensionando os direitos humanos pelo princípio da subsidiariedade e sublinhando a importância de instituições jurídico-políticas para a consecução de um bem comum que seja não somente instrumental ou utilitarista, mas também substancial. Assim, vislumbramos a dimensão de amizade cívica que caracteriza a comunidade política realmente justa e ordenada, cuja fraternidade enlaça liberdade e igualdade.
Victor Sales Pinheiro
Coordenador da Coleção Teoria da Lei Natural