Descrição
Durante a leitura deste belo trabalho, percebemos que Raphaela Jahara não ignora nada do que é importante para a compreensão da Chacina do Salgueiro. Da discussão sobre a militarização das polícias ao papel desempenhado pela ADPF 635 (ADPF das favelas), passando pela análise da atuação da Corte Interamericana de Direitos Humanos, descobrimos como as favelas representam o espaço da necropolítica, ou seja, o locus ideal escolhido pelo Estado para manifestar seu poder de destruição. Exercer a soberania por intermédio da morte, na medida em que tem o poder de decidir quem pode viver e quem deve morrer, é a expressão máxima do poder do Estado. Quando essa violência recai sobre corpos pretos que no passado foram escravizados, percebemos como a necropolítica está especialmente presente em países colonizados .
Ao chegarmos ao final de “Vozes invisíveis. A Violência que ecoa na pele das mulheres”, percebemos que Raphaela Jahara não nos presenteou apenas com um belo e denso trabalho teórico sobre a invisibilidade e o silêncio de mulheres desvalorizadas pela sociedade e negligenciadas pelo Estado. Mais do que um livro que bem nos conduz pelos meandros da necropolítica e da subalternidade feminina, o que temos nas mãos é também um instrumento de luta que dá voz a mulheres oprimidas, desvenda a desproteção do Estado e revela a extraordinária violência da polícia fluminense.
Gisele Cittadino
Agosto de 2025