Descrição
Silvia Federici, em seu livro Calibã e a Bruxa, afirma que: “na sociedade capitalista, o corpo é para as mulheres o que a fábrica é para os homens trabalhadores assalariados: o principal terreno de sua exploração e resistência, na mesma medida em que o corpo feminino foi apropriado pelo Estado e pelos homens, forçado a funcionar como um meio para reprodução e acumulação de trabalho.”
Tamires Torres Alves, em sua pesquisa sobre as cotas eleitorais de gênero no Brasil, inicia colocando luz sobre importantes aspectos da desigualdade de gênero: a divisão sexual do trabalho e a histórica ocupação do ambiente privado dos cuidados pelas mulheres.
Umbilicalmente ligada ao capitalismo, a conformação da mulher no espaço privado vem sendo rompida ao custo de muita luta e sobrecarga, que impactam na vida, saúde física e mental das mulheres.
Não obstante as dificuldades de acesso e permanência, cada vez mais mulheres se lançam aos espaços públicos e de poder.
A pesquisa de Tamires Torres Alves traduz o caminho percorrido através das políticas afirmativas, cujos avanços são tímidos em razão da insistência dos partidos políticos em descumprir a lei. Quando não o fazem, impõem obstáculos à efetiva representatividade de gênero na política, reproduzindo as práticas sedimentadas na sociedade patriarcal.
No que poderia ser uma pesquisa pessimista, ao reconhecer os tímidos avanços que a lei de cotas de gênero proporcionou, a autora apresenta propostas de políticas públicas de inclusão e de formação, que, aliadas ao debate responsável e uma educação sob perspectiva de gênero, possuem o potencial de produzir o efeito desejado de representação com equidade de gênero na sociedade, em um futuro breve.
É por isto que lutamos. E é este o alcance desta pesquisa.
Ana Carolina Moreira Santos
Advogada criminalista, formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestra em Direito Médico pela Universidade Santo Amaro