Descrição
O filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser percebe o alcance das observações de Walter Benjamin acerca do impacto da fotografia. Mas, podendo vivenciar o desenvolvimento da informática e da cibernética na segunda metade do século 20, constata que chegáramos ao ponto em que as próprias imagens produzidas por aparelhos ganharam tamanha repercussão que tenderiam a se bastar por elas mesmas, chegando inclusive a pressionar os textos para se desvencilhar destes.
Diante da avassaladora emergência das imagens fotográficas/ cinematográficas no estabelecimento do paradigma imagético caracterizado pela ascendência das telas e das teclas, a pergunta assusta e causa estremecimento: estaríamos ainda deveras sob o império do direito escrito? Sobreviveria ele incólume diante do avanço sorrateiro dos disparos em massa dos clicks das edições fotográficas/cinegrafistas contra os textos?
Perante esse cenário, com as tensões e fricções provocadas contra a integridade das texturas jurídicas, fazendo com que elas se tornem meros fios de informações soltas (bits entre bits), quais as chances de críticas esmiuçadoras da violência e esmiuçadoras do estado de exceção? O questionamento pode ganhar um sentido ainda mais aterrador: meros receptores de informações, que estão programados funcionalmente, seriam capazes de enxergar o fervilhante aparecimento da violência e da exceção, em face das edições efetuadas desde programações acionadas e calculadas para deletá-las, por mais latentes que a violência e a exceção guardem aí aparição, de novo e vez mais?